[Entrevista] Literatura com protagonismo LGBTI ganha espaço na Bienal do Livro em SP
A participação de autores como Thiago de Oliveira e Ewandro Pallottini na Bienal do Livro de São Paulo reforça o espaço das narrativas nacionais LGBTI, que tratam sobre aceitação e a diversidade
Oie oie, essa é a oitava edição da news amplificando narrativas 💫 E o tema de hoje está quentíssimo: vamos falar sobre a representatividade queer na Bienal de São Paulo. Nesta edição, foram utilizadas informações da editora Flyve, além de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também temos aspas, ou seja, falas do autor carioca Thiago de Oliveira. Muuuuuuito obrigada pela participação e pela conversa tão alto-astral, Thi!! Então, bora pra leitura?
"Eu não sei nem como projetar o que esperar da Bienal porque a gente fica muito ansioso. Lá acontece muita coisa, é muita troca, muita conexão. Eu estou bem animado pra Bienal, vai ser minha primeira vez na Bienal de São Paulo. Mas é basicamente o que você falou: a materialização de um sonho porque por muito tempo a gente fica projetando, pensando "Ah, como vai ser isso?" e aí agora a gente consegue ter essa realização. Vai ser esse esse passo de conseguir ver ali as coisas acontecendo de ter uma certeza que agora está caminhando", essa é a voz do escritor LGBTI1, Thiago de Oliveira.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aproximadamente 2,9 milhões de brasileiros adultos se identificam como lésbicas, gays ou bissexuais em 2019, o que representava quase 2% da população brasileira adulta. Ou seja, os dados mostram que tratar sobre pautas de diversidade é falar sobre as vivências de um grupo bastante extenso, por mais que ele ainda seja sub-representado na mídia. Pensando nisso, muitos autores brasileiros estão dedicando seu tempo (e sua escrita!) para falar sobre as vivências comuns ao grupo, a fim de aumentar a representatividade.
Esse é o caso de Thiago. Aficionado por thrillers e narrativas que envolvem superpoderes, o carioca publicou seu primeiro trabalho nos tempos pandêmicos de 2021 de maneira independente. Mas foi somente no ano passado que veio a concretização de um sonho: a publicação do livro físico O Renegado, obra ficcional distópica que mistura um universo fantástico com questões sociais, como a auto-descoberta e a aceitação da sexualidade. O escritor participa desta edição da Bienal do Livro de São Paulo, que acontece no Distrito Anhembi, na zona norte da cidade, até o próximo dia 15 de setembro. Segundo informações concedidas pela assessoria, o livro já soma mais de 2,9 mil vendas em plataformas digitais.
"O meu começo [com a escrita] foi no período de pandemia. Eu já tinha uma ideia que queria escrever só que eu nunca levei isso muito a sério porque sempre ficava "Ah, vou primeiro procurar me estabilizar financeiramente, ter um emprego pra poder me sustentar e depois eu penso nessa ideia de escrever um livro". Porque parecia ser algo muito mais difícil, não que seja fácil chegar nessa parte de publicar. Mas no período de pandemia eu tive mais tempo para poder focar em outras coisas e veio uma ideia um dia, tive um sonho e falei assim "Dá pra criar uma história em cima disso" e aí eu comecei a trabalhar dentro desse dessa história com coisas que eu já tinha uma conexão", afirma Thiago de Oliveira, que agora participa do ecossistema da editora Flyve, durante a nossa entrevista para essa edição da newsletter amplificando narrativas 💫
📺 As inspirações podem estar onde você menos espera
Thiago compartilhou o "Quarteto Fantástico" da inspiração para O Renegado: X-Men, The Boys, (muito!) thriller psicológico à la Stephen King e personagens de jogos de RPG. "Até então eu só tinha aquela visão assim como leitor. Até mesmo escrevendo eu ainda não tinha muito essa ideia do que é ser um escritor no Brasil. Então quando a gente dá esse outro passo a mais nos deparamos com uma realidade que às vezes é um pouco assustadora de início", diz. Para o escritor, publicar seu livro não é apenas a materialização de uma jornada, mas a forma para se conectar com outras pessoas através das suas histórias.
Em O Renegado, Thiago trabalha a narrativa de Nephyr Seth, um jovem do Rio de Janeiro que tem um poder. Tudo – e isso inclui a questão dos poderes e toda a narrativa de auto aceitação – é desencadeado a partir de um encontro efervescente com um garoto chamado Nicolas Brito. Apesar de raro, Nephyr não está sozinho e entende na sua diferença seu grande trunfo. O livro é uma espécie distópica de celebração à diversidade, tratando sobre questões de um jovem que só queria ser visto. Thiago tem planos de que este seja o primeiro volume de uma trilogia, o segundo livro já está escrito e deve ser lançado em 2025. Além disso, o escritor está produzindo outras histórias com foco no protagonismo LGBTI.
"Acho que isso [da inspiração] foi muito da minha vivência e de outras histórias que acabaram me inspirando no meu processo de crescimento porque quando a gente se descobre uma uma pessoa LGBTI, nem sempre estamos muito preparados para o que vamos receber de familiares ou amigos. Esse é um processo muito doloroso porque muitas pessoas acabam largando das nossas mãos e a gente acaba aprendendo a viver com essas cicatrizes. Isso foi muito forte no momento que eu estava escrevendo porque eu sinto que escrever esse primeiro livro foi como um grito, eram muitas coisas que eu precisava gritar para que outras pessoas conseguissem me ouvir. Então tinha muito essa barreira de não conseguir falar por mim, não estava conseguindo ter essa comunicação, então a escrita foi esse escape, foi o primeiro momento de eu conseguir enxergar a minha própria voz", afirma Thiago.

🇧🇷 O sonho e a valorização dos escritores nacionais
Quando perguntei ao Thiago o que ele falaria para sua versão que estava começando, o carioca nem titubeou ao falar: "Eu falaria pra ele seguir em frente dele. Porque eu acho que a gente tende a não priorizar muito o que a gente sonha porque muita das vezes as pessoas falam assim: "Ah, sonhos são impossíveis" e, assim, o sonho se torna algo muito mágico", diz o escritor que tem lido os brasileiros Ewandro Pallottini, Nicole Annunciato e Rafael Montes (e, é claro, na lista dos autores internacionais não poderia faltar: Stephen King).
Para ele, sonhar nada mais é do que "projetar a realidade mesmo que haja dificuldades no percurso". Além disso, o escritor tira um momento da nossa conversa para ressaltar a importância do contato com autores nacionais. "Tem muita coisa boa sendo produzida", afirma. A valorização dos autores "da nossa casa" começa com uma mudança de hábito, segundo o carioca, um processo que recomenda a todos.
✍️ Outros escritores que vale a pena conhecer
Natural de Santos, o escritor formado em artes cênicas e cinema Ewandro Pallottini também está marcando presença na Bienal de São Paulo, um dos maiores eventos literários da América Latina para apresentar seu mais novo lançamento: o livro O Paradoxo do Príncipe. A obra, que fala do poder do primeiro amor, traz assuntos importantes sobre a auto-descoberta enquanto pessoa LGBTI. O livro mistura história de época com o gostinho cheio de reviravoltas da categoria de jovens adultos. E aí ficou curioso pra ler?
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Vamos espalhar pequenas revoluções por aí? Que essa edição te inspire a continuar os diálogos sobre diversidade e a importância de apoiar produções nacionais. Até o próximo texto! 🌟
A sigla utilizada ao longo do texto para representar a comunidade LGBTQIA+ é LGBTI, seguindo a forma usada pela Organização das Nações Unidas (ONU).